PAUL HARTLAND CARNIVAL

Findo o carnaval, presenteamos os fumantes de Charutim de Palha com mais um texto irreverente e a chance de se sentirem menos inseguros ante o tenebroso e pedante mundico da arte.

E o artista agraciado desta semana é László Moholy-Nagy _é obrigatório falar o nome completo dele sempre, estilo Tati Quebra-Barraco _ com sua obra “Paul Hartland Carnival. Composition with two masks” de 1934.

Moholy-Nagy é lembrado principalmente pelo seu pioneirismo. Enquanto artista de vanguarda, trabalhou em vários meios diferentes como escultura, pintura, design industrial, fotografia e tipografia.

Como todo artista bacanudo da época (anos 20 mais ou menos), lecionou na escola Bauhaus _ um descolado centro de ensino de arte cuja proposta era fazer várias coisas loucas integrando diversas manifestações artísticas, design, processos industriais e toda sorte de doideiras_ onde ocupava a cadeira de Chefe do Departamento de Metal, um belo título aliás, e tinha bastante moral.

Infelizmente, devido a um probleminha chamado Nazismo, teve que parar de trabalhar na Alemanha por ser estrangeiro. Além disso a escola Bauhaus foi considerada um degenerado antro de comunistas e drogados e foi duramente perseguida durante o regime, que não tolerava gente feliz e criativa.

Nosso László Moholy-Nagy então deu uma rodada por aí, passando por Londres até finalmente se estabelecer em Chicago, onde morreu de leucemia em 1946.

Durante sua vida buscou incessantemente a inovação, sendo considerado um “artista total”, ou seja, dominava várias técnicas, como um “Capitão Planeta” da arte, unindo diferentes poderes.

E tal qual o Capitão Planeta, não existia para ele um elemento superior ao outro, não havia uma hierarquia entre as diversas formas de se produzir arte, ele se sentia confortável com o que viesse e era isso mesmo, foda-se, o importante era ser original.

E original ele certamente era, tanto que uma de suas criações mais famosas se chama “Lichtrequisit einer elektrischen Bühne” que depois ficou conhecido como “Modulador de Luz no Espaço”.

Mais complicado que o nome é a geringonça nomeada: um estranho objeto de metal que gira sobre uma base enquanto se projeta uma luz nele. A idéia é ficar pirando nas sombras criadas e em como a luz é modelada nessa parada. Tá aqui o link para quem quiser fritar um pouco: ( https://www.youtube.com/watch?v=nVnF9A3azSA ).

Dentre as inúmeras formas com que László Moholy-Nagy projetou sua loucura, escolhemos uma emblemática fotografia, produzida em parceria com seu assistente à época, Paul Hartland (que depois virou fotógrafo de passaportes falsificados na Alemanha Nazista, mas isso é outra história).


Este trabalho é de uma sutileza impressionante e demonstra o incrível domínio do artista sobre as técnicas de luz e composição cromática. Isto é facilmente observável na delicadeza com a qual o reflexo das luzes é manobrado em determinados pontos da obra, como na base transparente que apóia e atravessa a máscara à esquerda, gerando a impressão de um “feixe de luz” projetado do “olho” da máscara, efeito este depois replicado através de alta tecnologia na novela “Olho por Olho” de 1993. Chama a atenção também o equilíbrio entre as cores da parede ao fundo, proporcionando um tenso jogo cromático que contribui para o tom um pouco melancólico do quadro.

É a ressaca do fim do carnaval, o momento agridoce de se lembrar _ou não_ da folia e dos excessos vividos enquanto se contempla a dureza da vida sóbria que aguarda em interminável rotina. A forma como a máscara em primeiro plano foi posicionada nos lembra uma súplica, como se pedisse aos céus para aquele momento não terminar nunca, sabendo porém da impossibilidade do pedido ser atendido, só lhe resta chorar a serpentina que escorre de sua face, despedindo-se da doçura em loucura desenfreada que vivera.

A máscara em segundo plano só parece estar passando mal mesmo, uma coisa meio “miga, me ajuda, tô louca”, mirando o “chão”, onde provavelmente está prestes a regurgitar os tais excessos, inevitáveis durante tão deliciosa data.

Então é assim que também nos despedimos do carnaval, com a tristeza do inexorável desfecho, mas também a alegria de saber que aproveitamos da única forma possível: completamente amalucados.

Mais uma produção feroz do Felipe Guimarães

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