NIGHTHAWKS – EDWARD HOPPER

Esta obra foi sugestão da queridíssima amiga Tulasi, que nos fez essa recomendação certeira. Muito obrigado!

Devido a irresistível clamor popular, trazemos mais uma edição do projeto “Arte e Tabagismo”, comentando agora uma das mais conhecidas e parodiadas obras de todos os tempos; “Nighthakws” ou, em tradução livre, “Gaviões da Noite” (ainda da tempo de registrar esse nome pra sua banda cover que toca o melhor do soft rock,bem bundona) de Edward Hopper.

Esta obra do longínquo ano de 1942 retrata uma cena mais ou menos comum na vida de todo boêmio digno, o famoso fim de noite. A fanfarra acabou, quem se arrumou arrumou, quem não, não se arruma mais, e agora resta sorver o resto da madrugada saboreando os últimos cigarros do maço, a contemplar as vicissitudes e complexidades da experiência humana. Claro que, no caso específico desta pintura, estamos contemplando um café bem burguesão dos states da primeira metade do séc XX, mas o sentimento que a obra traz é universal. Ela evoca algo de solitário e distante. Solitário porque a interação do pessoal ali é mínima e, embora a cena esteja claramente situada em um contexto urbano,não há um movimentozinho, nada. Tirando os frequentadores do buteco, o resquício de vida que há na cena é a plantinha na janela, pronta a cair na cabeça de algum senhor incauto que passe por ali na hora errada e a cortina ao lado, puxada de forma displicente e preguiçosa, estando assim torta e pronta a dar pesadelos aos amigos obsessivos. Parece que esse local é meio que um limbo, perdido no espaço-tempo, como se fosse um episódio de “Além da Imaginação” (queria que mais pessoas pegassem essa referência) onde estes personagens estão condenados a passar a eternidade presos, olhando um para a cara do outro, sem nunca conseguir bater uma prosa que valha a pena, só aqueles papinhos constrangedores de elevador. Bom, terminada a viagem (nunca termina), há de se ressaltar também o sentimento de “distanciamento” que a obra propõe. Isso é salientado por alguns truques do arsenal do astuto Hopper (a esta altura da carreira já macaco véio do mundinho das artes), como o fato deste café estar isolado da gente. Não da pra ver a entrada, nos resta ficar fitando o pessoal la dentro pelo vidro, passando frio do lado de fora e invejando os estilosos chapéus da moçada. Além disso, a luz vem toda do estabelecimento, como se fosse o último lugar do universo. Não há nada a se fazer ali a não ser sermos meio voyeurs dessa cena completamente banal do cotidiano.

E o que nossos “Gaviões da Noite” estão arrumando, além de porra nenhuma?

De costas tem um viajante do futuro, certamente conferindo o whatsapp. O sujeito do casal, corretamente com um cigarro em mãos (Charutim do futuro), diz alguma merda pro pobre atendente (“esses moleque de hoje é tudo black bloc, só quer saber de farra e proxenetagem, na minha época que era bom blablablazzzz…”) , que protocolarmente o ouve, meio que por obrigação do trampo e meio por falta do que fazer mesmo. A moça ao lado infelizmente não é do futuro, se não poderia estar conferindo o whatsapp também. Na falta desse recurso, contempla as próprias unhas e o rumo escroto que sua noite tomou.

É isso aí, Hopper é dos pintores mais influentes da escola do “Realismo Americano”, e de fato, nada mais realista que um final de noite meia boca. Com o corpo dolorido de tanta birita e a alma dilacerada pela total ausência de sentido disso tudo. O niilismo passa com a ressaca. Se tem outra forma de ser feliz, não me disseram.

Obs: O nome “Nighthawks” é devido ao narigão do sujeito fumando, que parece um “bico”. Pois é, a arte as vezes é sublime, outras vezes também.

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